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Da nave de Roswell retiramos quatro mortos e um vivo e da nave de Plains of San Agostin, três mortos e três vivos

– General Nathan Farragut Twining

Chemult, Oregon, EUA.

Quarta-feira, 6 de janeiro de 2010.

Como havia chovido ontem! As poças de água refletiam o céu parcialmente nublado. Cheguei à estação de trem de Chemult, que fica na cidade de mesmo nome, no estado norte-americano do Oregon. Meu destino era Sacramento, na Califórnia.

A cidade de Chemult tem apenas 309 habitantes! Não me perguntem o que eu vim fazer por aqui, pois nem eu sei. Na verdade, ela é uma comunidade ainda não incorporada no município (county) de Klamath. A cidade surgiu devido a construção da estação de trem. As pessoas são simpáticas, mas nada que se compare o “calor humano brasileiro”. Se alguém um dia for por aquelas bandas, recomendo o Skyair Motel (os hotéis na beira da estrada nos Estados Unidos são chamados de motel) e o restaurante Dino’s Dinner.

A estação era bem simples…na verdade era bem “pobre”. Não tem um local para comprar as passagens como é de costume nas cidades onde já estive. Você tem que comprar nas lojas espalhadas pela cidade ou através de uma máquina eletrônica que fica embaixo de uma cabaninha feita de madeira e pintada nas cores azul e vermelha. É só uma rampa para embarque e desembarque. Tudo a céu aberto. Mas estava nos EUA e aquilo lá para mim é o máximo. Gosto de coisas assim, estilo antigo, bem rústico. Cara de cidade tipicamente americana, bem diferentes das cidades turísticas daquele país.

Eu havia comprado uma passagem no vagão executivo do trem Coast Starlight. Custou-me a bagatela de 45 dólares. Digo bagatela porque o trem é muito bom. Não é um primor, luxo, mas é novinho. No vagão executivo cabem 46 pessoas. São 13 fileiras com duas poltronas de casa lado do vagão. Ao contrário dos aviões, elas realmente reclinam. Dava para dormir tranquilamente. Eram 640 km entre Chemult e Sacramento. Peguei o trem às dez horas da manhã. Chegaria ao meu destino quase três da tarde.

Como não estava com sono, fui ao vagão-restaurante comer alguma coisa. Sentei-me no balcão e pedi ao barman um hambúrguer duplo e uma Coca-Cola. Tirei da minha mochila o livro que estava lendo, The Roswell Legacy: The Untold Story of the First Military Officer at the 1947 Crash Site (O Legado de Roswell: A História Não Contada do Primeiro Oficial Militar no Local da Queda de 1947). O livro foi escrito por Jesse Marcel Junior, filho do major Jesse Marcel, que foi o primeiro militar a ver os destroços do UFO, Linda Marcel e Stanton Friedman.

Enquanto comia o meu lanche, que por sinal estava delicioso, lia o meu livro. Eu estava muito entretido com a leitura. Não estava vendo a hora passar. De repente ouço alguém dizer: “Essa história de Roswell realmente mexe com muita gente até hoje“. Virei-me para a direita e vi um homem. Era um senhor com seus mais de 80 anos de idade. Seus cabelos eram bem brancos. Ele estava sentado uma cadeira depois de mim e tomava uma água.

“Realmente. Esse assunto me atrai muito. Gosto muito de ufologia. O senhor também gosta?”, perguntei.

Ele deu um leve sorriso e disse, “Bastante. Já estive muito envolvido com esse assunto”.

Na hora vasculhei no meu cérebro se conseguia descobrir quem era ele. Seria um ufólogo? Alguém da mídia? Ou simplesmente um interessado pelo assunto? Mas nenhuma imagem me aparecia na mente. Acho que ele percebeu isso e se apresentou,“Me chamo Nathan, Nathan Twining”.

Acho que eu fiquei de boca aberta, babando, olhando para a cara daquele senhor por uns dez segundos. Mas não podia ser. Não podia ser “O” Nathan Twining.

“E você, não vai se apresentar? Pelo seu inglês, você é estrangeiro”, disse.

Desculpe-me. Meu nome é Thiago Luiz, sou brasileiro“, respondi automaticamente. Mas não me contive e perguntei, “o senhor é Nathan Farragut Twining, general Twining?

O general Nathan Twining foi simplesmente o chefe da força aérea dos Estados Unidos de 1953 a 1957, responsável por um memorando direcionado ao general brigadeiro da forca aérea norte-americana George F. Schulgen. Esse memorando ficou conhecido como Memorando Twining. Nele, o general Twining respondia às solicitações do general Schulgen, e aconselhava que fossem conduzidas investigações que pudessem esclarecer os recentes avistamentos de UFOs.

“Sim sou eu. Acho que estou muito famoso”, respondeu sorrindo.

Minha cabeça estava rodando a mil por hora. Estava diante de um dos personagens mais importantes de toda a história da ufologia. Eu queria perguntar muitas coisas, mas não sabia por onde começar nem se deveria fazê-lo. Parece que mais uma vez ele percebeu o que eu queria.

 “Não sei se você quer saber, mas acho que já passou de a hora da minha verdade vir à tona”.

 “Sim, claro, claro que quero saber. Quero saber a verdade toda, toda a sua verdade, quero saber sim“.

Eu parecia um doido. Acho que estava em choque.

“Você está lendo sobre Roswell, então creio que já saiba algo sobre o caso”. Fiz que “sim” com a cabeça, concordando com a afirmação.

“Aqueles foram tempos de grande confusão. Muitas coisas aconteciam a cada segundo. Coisas que nunca estive preparado para lidar. Tínhamos relatos de discos-voadores todo santo dia. Eu me perguntava o que estava acontecendo.

“Mas sobre Roswell? Vocês pegaram mesmo o UFO acidentado? E os corpos? Eram quantos? Por que vocês…”. Eu queria ir ao ponto, minha ânsia de querer a resposta do caso mais famoso da ufologia me consumia por dentro.

“Calma Thiago, temos algumas horas de viagem ainda para falar sobre tudo o que você quer”, sorriu.

Era muita informação. Muitos questionamentos que eu sempre tive estavam prestes a serem respondidos.

“Sim nos resgatamos os UFOS, os dois objetos que colidiram em caíram em Roswell e em Aztec. E sim, resgatamos os corpos também. E fizemos, desculpe a minha arrogância, uma das melhores e maiores operações de desinformação da história!”

 Eu não acreditava. Estava ouvindo de um general dos Estados Unidos a confirmação de que a os militares haviam resgatado dois UFOs acidentados, e não um como muitos pensam” em 1947, assim como os corpos dos seus ocupantes. E ainda, que houve, mas isso não era surpresa, uma grande operação de desinformação sobre o caso. Importante ser dito, alguns ufólogos até hoje acreditam que na verdade foram dois UFOs que caíram em julho de 1947.

 “O que foi feito das naves, e dos corpos?”, perguntei.

“Levamos para duas bases, Wright-Patterson, como muitos já descobriram e para a Base Aérea de Robins, na Geórgia. Sobre essa base ninguém nunca falou. Quem deu a idéia para levar para lá fui eu. Tínhamos que despistar o máximo possível. A imprensa já estava sabendo do ocorrido, pois a nossa base em Roswell havia soltado a notícia. Eu quis matar o coronel Blanchard e o tenente Walter Haut. Os caras já tinham anos de caserna e me aprontam uma dessas. Mas bem, jornalistas do mundo todo, inclusive do Brasil, acho que Ibrahim Sued, queriam saber detalhes.”

O coronel William “Butch” Blanchard, era o comandante da Base de Roswell, onde ficava o 509º Esquadrão de Bombardeio da Base de Roswell, de onde saiu o avião que jogou a bomba em Hiroshima e Nagasaki. Walter Hant era o oficial de imprensa da base.

“Ai vocês ridicularizaram o major Jesse Marcel”, o interrompi.

“Era ele ou o coronel Blanchard. A corda arrebenta do lado de quem? Chamamos Marcel e fizemos tudo aquilo que já se sabe. Foi preciso. Tínhamos que ganhar tempo para transportar o material recuperado“.

“E os alienígenas que foram resgatados? Quantos foram? Quantos vivos?”

 “Da nave de Roswell retiramos quatro mortos e um vivo e da nave de Plains of San Agostin, três mortos e três vivos”.

“Como assim, todos pensam que foram apenas três mortos e um vivo, que permaneceu assim por seis meses”

“Te disse que essa operação foi uma das melhores que fizemos. Pode não ter sido perfeita, mas muita coisa continua um mistério até hoje”

 “Mas e os corpos vistos pela amiga enfermeira de Glenn Dennis, o dono da funerária em Roswell? Toda aquela confusão na cidade, no hospital, aquela ameaça aos civis?”

“Metade verdade, metade mentira. O que aquela enfermeira viu na verdade foram os corpos carbonizados de três pilotos que morreram ao tentar interceptar esses dois UFOs. Os seus aviões foram derrubados por eles. O mais estranho foi que após eles derrubarem nossos aviões, algo deu errado e ambos colidiram, causando a sua queda. Muitos disseram que foi interferência de nosso sistema de radar. Ora, nosso sistema de radar era novo e mal funcionava. Quem difundiu essa idéia fomos nós mesmos. Como iríamos dizer que três pilotos foram mortos após perseguirem dois objetos voadores não identificados? Nós usamos o hospital de Roswell para levar os corpos dos militares e assim desviar a atenção. Enquanto todos direcionavam a sua atenção para lá, um comboio de oito caminhões cruzava a cidade até a Base de Roswell sem ninguém notar. Dentro dos caminhões estavam os alienígenas e as naves. Ah, antes que você me pergunte, os caixões pequenos, para crianças, pedidos a Glenn, eram para guardar pedaços dos corpos desses pilotos; e mais uma maneira de confundir a cabeça de todo mundo”.

“Mas então a cronologia dos eventos conhecida hoje em dia está toda errada. O major Marcel dormiu na casa do fazendeiro Mac Brazel no dia anterior a sua ida ao local do acidente.”

“Sim, e ele foi mesmo. Mas nós já sabíamos de tudo. Nós já tínhamos ido a Aztec recolher os destroços de um dos UFOs, pois as testemunhas lá eram alguns arqueólogos, da Universidade do Novo México. Era preciso agir mais rápido, pois em Roswell havia um militar envolvido, o que tornaria o trabalho de sigilo mais fácil. O major Jesse Marcel viu parte dos destroços. A nave de Roswell havia quicado e parou numa ribanceira a alguns quilômetros de distância do primeiro ponto de impacto no solo. Com os arqueólogos fora do caminho, voltamos a nossa atenção para Jesse Marcel e a imprensa”.

“Uau” pensei. Aquilo tudo que eu estava ouvindo era demais. Era a confissão de um general ligado ao evento, mesmo que não constasse na história “oficial” do Caso Roswell.

“General, mas o senhor nunca foi citado por ninguém. Seu envolvimento nunca foi divulgado”

“Claro que não. Eu fazia parte de um serviço secreto dentro do serviço secreto das forças armadas. Éramos cinco pessoas com mais poder do que o presidente dos EUA, que ao contrário do que muitos afirmam, sabia de quase tudo. Queríamos que ele soubesse para que não nos incomodasse no futuro. Ele soube o que ele podia saber. Mas voltando, nós fizemos aquele negócio todo como Marcel, coisa que ao me orgulho, pois ele era um militar exemplar. Depois que essa história do balão pegou, por quase 30 anos ficamos sem notícia sobre o fato.”

“Só um segundo, general, e o seu memorando? Você considerou nele que poderia haver seres extraterrestre agindo na Terra”.

“Sim, claro. Dez anos após Roswell, os avistamentos continuavam e com muito mais frequência. O brigadeiro general Schulgen me pediu para que eu fizesse um relatório pedindo investigações sobre o fenômeno. Mas já estávamos investigando isso há anos e só agora resolveram se mexer? Assim fica difícil. Eu fiz o relatório e propositalmente fiz com que ele fosse ´vazado’ para a imprensa. Queria ver como eles lidariam com isso.”

 “E os alienígenas? O que foi feito com eles?”

“Os mortos foram distribuídos por várias instalações e universidades norte-americanas que recebiam verbas do governo. A Universidade de Stanford recebeu um ser, a de Washington também. Os quatro vivos foram levados para a Área 51. O que ocorreu lá eu não sei, não tive participação nisso”.

“General, confesso para o senhor que não sei se acredito em tudo o que disse ou se é mais desinformação ainda”, perguntei. Pensei comigo mesmo, o cara acobertou a verdade a vida toda e agora estava contando para um estranho, um brasileiro, um cara que ele encontrou no trem, uma das maiores conspirações de todos os tempos.

 “Mas é claro que você pode achar que isso tudo é mentira. Você não tem provas, eu não te darei provas. Estou te contando a minha verdade, como te disse e você pediu para saber”.

 Eu não havia prestado atenção na hora, mas já se tinham passado quase cinco horas de viagem e estávamos próximos do meu destino. Eu tinha que pegar a minha mochila que estava na minha cadeira. Acontece que eu queria ouvir mais!

 “General, por que contar isso tudo agora? Por que o governo esconde tudo que sabe?”

 “Estou no fim da vida, meu rapaz. Vivi com isso por anos a fio. Somente minha esposa sabia de toda a verdade. Quando nos casamos juramos nunca ter segredos um para o outro. Ela já se foi. Preciso falar o que sei”.

Olhando seriamente para mim ele disse, “ora, quem disse que o governo acoberta tudo? E esses programas de TV, filmes, seriados? Quais as empresas que os produz? Quem são os maiores investidores delas? O governo! O governo está aos poucos acostumando as pessoas sobre a nossa verdadeira realidade. Quando é dito que não se divulga tudo de uma vez, é porque sabemos que haverá pânico. Os mais instruídos poderão lidar com isso, mas e a população menos esclarecida? Diga-me, o que o pessoal do interior do seu país pensaria se disséssemos que seres extraterrestres estão vindo ao nosso planeta? Que já houve combate entre nós e eles? Que temos um segredo guardado há anos? Que muitas religiões vão simplesmente desaparecer? A natureza humana é complicada”.

De repente o sistema de som do trem avisa que faltam 30 minutos para Sacramento e que todos devem voltar aos seus lugares. Entrei em desespero. Tem muito mais

a perguntar. Pensei, “queria tanto ter um ufólogo mais experiente aqui comigo. Um Gevaerd, Friedman, Nick Pope…”

“General, podemos trocar e-mails, telefone, podemos nos encontrar novamente? Pode ser aqui ou se o senhor quiser conhecer meus país, minha casa está a sua disposição”.

“Meu jovem, creio que isso não será possível. Não desmerecendo o seu convite, mas é que não tenho muito mais tempo de vida. Na verdade, não sei por quanto mais tempo estarei aqui. Vamos lá, temos que voltar para nossos lugares”.

Mesmo contra a minha vontade tive que voltar ao meu lugar, mas não antes de dar uma última olhada para trás e ver aquele sujeito, de cabelos brancos, colocando um boné azul na cabeça, sentar-se em uma poltrona ao lado da janela. O tem parou e eu corri para a saída a fim de tentar ver o general mais uma vez e quem sabe ter a sorte de continuar a nossa conversa. Eu estava inclinado a deixar as minhas viagens de lado e passar mais tempo com ele. Esperei até o ultimo passageiro e nada dele sair. Perguntei ao funcionário do trem se havia mais alguém lá dentro e ele disse que não. Não estava entendendo nada.

No primeiro local que encontrei com Internet, mandei um e-mail para o Geva. Ele ficou louco. Disse que pegaria um avião no dia seguinte e se encontraria comigo para procurarmos o general, mas eu disse a ele que eu iria continuar a minha viagem e que o general não tinha descido em Sacramento.

 Esse texto é uma ficção, baseada em eventos reais. Qualquer coincidência com fatos verdadeiros poderá não ser mero acaso.