“Vimos coisas espetaculares. Vimos naves com mais de 30 metros de diâmetro, com mais de 100 metros de diâmetro”
– Capitão Uyrangê
No final da década de oitenta meu pai trabalhava no DAC (Departamento de Aviação Civil), hoje ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). O DAC ficava no mesmo prédio do Aeroporto Santos Dumond, no centro da cidade, no Rio de Janeiro. Como meu pai estava divorciado da minha mãe, passávamos os finais de semana com ele, então toda sexta-feira íamos para o seu trabalho à tarde e de lá para a casa do meu pai. Meu irmão adorava isso. Ele ficava o dia todo vendo aviões decolarem e pousarem. Eu gostava mesmo é da lanchonete (o mais legal era comer a vontade e não ter que pagar nada, pois a gente colocava na conta do meu pai). Meu pai era checador, isto é, era ele quem dava as autorizações para os pilotos civis exercerem a sua profissão, além de “ter” que viajar com eles para testá-los. Meu pai rodou o mundo dessa forma. Foi de Los Angeles a Tóquio, de Buenos Aires a Amsterdã.
Pois bem, numa dessas sextas-feiras fomos eu e meu irmão para o trabalho do meu pai. Chegando lá deixamos nossas bolsas e fomos “dar um role”. Meu irmão foi ver aviões e eu fui passear no saguão do aeroporto. Passei numa livraria e vi um livro chamado “OVNIS e as Civilizações Extraterrestres”, de Guy Tarade. Eu já o tinha, pois meu pai havia me dado o dele com um autografo. Meu pai sempre me incentivou na ufologia.
“Oi Ticchetti, tudo bem? Vai levar esse livro?”, perguntou o vendedor da livraria. Ele já me conhecia de tanto que eu ia lá. “Não, esse eu já tenho”, respondi e fiquei olhando os livros.
De repente ouço alguém dizer ao meu lado, “quer dizer que o filho do coronel Ticchetti gosta de discos voadores. Seu pai sabe disso?”
“Sabe sim. Ele inclusive é que me incentiva a ler mais sobre o assunto”, respondi àquele capitão da Aeronáutica. Ele era baixo, tinha meu tamanho, mas eu tinha uns 14 anos de idade na época.
“Meu nome é Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima, ou como o pessoal chama, capitão Hollanda. Conheço seu pai. Ele foi meu instrutor na Academia da Aeronáutica. Uma excelente pessoa.”
Eu agradeci o elogio ao meu pai, mas não me ative muito a ele. Foi quando ele me disse,“Eu já vi vários OVNIs. Inclusive os investiguei”.
Opa, o que é isso? Um capitão da Aeronáutica dizendo que já investigou os UFOs; e dizendo para mim?
“Quando? Onde?”, perguntei.
“Eu sabia que você iria ficar curioso. Vamos comer algo lá na lanchonete” .
Nós subimos para o DAC. A lanchonete ficava no 4º andar do prédio e só quem frequentava lá eram militares ou pessoas que trabalhavam no Departamento. Mas antes passamos na sala do meu pai para dizer que estava me levando para comer alguma coisa. Lembro do meu pai dizer, “Cuidado com meu garoto, capitão. Quando ele quer saber alguma coisa ele sabe como conseguir”. Aquilo era um elogio ou um alerta?
Sentamos numa mesinha no canto da lanchonete. Pedi um bauru e um suco de laranja. O capitão pediu um misto e um refrigerante. Sem precisar pedir nada ele começou a falar.
“Thiago, você era bem pequeno entre 1978 e 79. Foi quando fomos investigar algumas luzes que estavam assustando a população de algumas cidades do Pará. Imagine você cidades inteiras morrendo de medo de sair à noite por causa de luzes que eles chamavam de ‘chupa-chupa’. Eles chamavam essas luzes desse Noé porque muitas pessoas afirmaram que essas luzes chupavam o sangue delas. Inclusive muitas foram ao posto de saúde e lá se constatou que elas estavam sofrendo de anemia profunda. Houve inclusive uma morte”.
Só de ouvir isso a minha cabeça foi a mil. Eu tinha só 14 anos na época. A única coisa que eu sabia sobre ufologia é o que tinha lido nos livros que meu pai me deu e numa coleção chamada “Documento OVNI” da Editora Três. Nem Revista UFO eu lia.
“Mas como você foi para lá? A Aeronáutica te mandou?”
“Sim. Eu morava em Belém. O I COMAR recebeu um ofício da prefeitura de Colares, uma ilha do município de Vigia. Nesse ofício, eles diziam que estranhas luzes estavam incomodando os pescadores, e por isso não conseguiam mais pescar. Eu fui chamado pelo coronel Camilo Ferraz de Barros, chefe da Segunda Seção, o A2, do I COMAR. O A2 é o serviço de inteligência da Aeronáutica em cada Comando Aéreo. comando para investigar os relatos e entrevistar as testemunhas. Eu e mais cinco agentes do I COMAR fomos para colares.”
Quando nossos pedidos chegaram o capitão Hollanda parou de falar um pouco. Mas eu comia e pensava naquilo que ele já havia dito, afinal estava falando com uma pessoa que havia investigado in loco de maneira oficial os discos voadores. Muitos anos mais tarde eu viria a saber ainda mais detalhes quando ele deu entrevista para o Gevaerd e ao Marco Petit.
“Continuando, Thiago,eu recebi das mãos do coronel uma pasta com vários documentos. Esses dados foram obtidos através do SIOANI, que é o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados. Eu nomeei a nossa investigação de Operação Prato.
Quando nos chegamos, fomos entrevistar os moradores. Era visível o pânico naquela população. Recolhemos dezenas de relatos. Muitos tão impressionantes que beiravam o absurdo. O grande problema era tentar explicar para aquelas pessoas, que já não tinham um grau de instrução muito grande, o que seriam aqueles objetos luminosos que disparavam raios em direção às suas vítimas”.
“Por isso eram chamados de ‘chupa-chupa’, não é?” Indaguei.
“Isso mesmo. Para o meu espanto, ao final da nossa operação, que durou cerca de quatro meses, mais de 400 pessoas tinham sido atingidas pelos raios de luz. Muitos tiveram anemia e mais de 10 faleceram em decorrência desses ataques, de forma direta ou indireta”.
Mas o que eu queria mesmo saber é se eles haviam tido algum contato com algum UFO ou com algum alienígena.
“Capitão, e quanto às naves? O que vocês viram?”
“Thiago, vimos coisas espetaculares. Vimos naves com mais de 30 metros de diâmetro, com mais de 100 metros de diâmetro.
Numa certa noite, quando estávamos acampados perto de uma praia, o soldado Ramires, que estava de sentinela, gritou e acordou todos nós. Ele estava congelado de medo. Eu não podia crer naquilo. Era uma nave, circular, muito brilhante, mas com janelas ao seu redor. Ela estava saindo da água. De repente ela parou na superfície. Começamos a fotografar e filmar tudo. Abriu-se uma espécie de porta e dela saíram dois seres brilhantes. Não dava para ver detalhes, só a silhueta deles. Eles pareciam andar sobre a água; e estavam vindo em nossa direção. Em nenhum momento pegamos as armas. Sabíamos que eles não nos fariam mal. Quando estavam próximos a areia da praia, uns 100 metros de nós, eles pararam. Nós ficamos lá olhando e registrando tudo. Eu sentia que eles queriam manter algum contato, mas não se aproximavam.”
“E o que vocês fizeram?”, perguntei extasiado.
“Não fizemos nada. Deveríamos ter-nos aproximado. Acho que era isso que eles esperavam. Como não tomamos nenhuma iniciativa, eles voltaram para a nave. A porta se fechou e a nave se iluminou ainda mais. Ela levantou vôo lentamente e depois disparou em direção ao espaço. Acho que ficamos em silêncio por mais de 10 minutos olhando para o horizonte na expectativa de que ele retornasse.”
Era muita coisa para minha cabeça. Eu ouvia aquilo vorazmente. Mas uma coisa surgiu na minha mente. As provas fotográficas, documentais e filmagens!
“Capitão, e todo o material que vocês fizeram? As fotos, filmes e documentos? Onde estão?”
“Ah, Thiago, quando retornamos da missão, quase quatro meses depois, tínhamos mais de 500 fotos, mas de 20 horas de filmagens espetaculares, desenhos dos UFOs e muitos depoimentos. Quando retornamos a Belém, fui entregar tudo isso imediatamente ao meu chefe juntamente com o nosso relatório. Contei tudo a ele. Para minha surpresa ele disse que a operação estava cancelada, mesmo com tudo que disse ter visto e registrado. Fiquei perplexo. Estávamos diante de provas irrefutáveis de que havia a presença extraterrestre naquela região e a Aeronáutica iria cancelar a missão ao invés de investigar ainda mais? Não entendia. Mas bem, ele me deu os parabéns pelo trabalho e disse que eu poderia voltar para os meus deveres rotineiros.
Ao sair da sala vi que haviam três homens, altos e olhos claros do lado de fora da sala do meu chefe. Eles pareciam estrangeiros e ao passar por eles ouvi que falavam inglês. Vi que eles me olharam de cima a baixo. Depois entraram na sala do coronel Ferraz de Barros”.
“Será que eles eram americanos atrás do que o senhor tinha levado?”
“Não sei, mas possivelmente. Anos depois ouvi rumores de que aqueles homens eram militares da força aérea dos EUA e teriam levado boa parte de tudo que registramos”.
“Mas o senhor não ficou com nada? Não guardou nada com o senhor?”
O capitão Hollanda olhou para mim, deu um sorriso e me disse:
“Meu filho, há tesouros que a gente tem que manter conosco e segredos que só podem ser revelados mais na frente”.
Não entendi muito bem aquilo. Mas meu pai tinha chegado. Me despedi do capitão e agradeci o lanche.
Em 1997, vinte anos depois, Hollanda Lima concedeu uma entrevista aos pesquisadores Ademar José Gevaerd e Marco Antônio Petit relatando os acontecimentos e as atividades de sua equipe nos dois últimos meses da operação. Segundo ele, sua equipe presenciou as mais surpreendentes e estranhas manifestações de natureza desconhecida. Além de ter presenciado, os militares registraram os movimentos erráticos de pequenos objetos luminosos que julgou serem “sondas ufológicas”. Constataram também a presença de gigantescas naves que executavam manobras que destruiriam qualquer aeronave conhecida. Seriam maiores que “um prédio de trinta andares” em seu comprimento e emitiam luzes de várias cores. Tais “espaçonaves” recolhiam regularmente as “sondas pesquisadoras”. Em sua entrevista o coronel Hollanda declarou que dois agentes do Serviço Nacional de Informação, também tiveram a oportunidade de presenciar estas manifestações envolvendo os objetos gigantes. O coronel pôde fotografar e filmar diversos tipos de luzes, das mais diversas dimensões. As cores também variavam e supunha ele que indicavam a função ou o tipo de manobra do “aparelho”. A equipe também recolheu relatos incríveis contados pela população ribeirinha. Alguns envolvendo seres luminosos saídos do interior de estranhos objetos. Esses seres arrebatavam pessoas com sua luminosidade. Outros sugavam o sangue das pessoas que capturavam. Um fato registrado é que na maioria dos episódios havia a presença de uma ou mais testemunhas.
Esse era seu tesouro.
Coronel Uyrangê, sua coragem incentivou muitos ufólogos. Muito obrigado e descanse em paz.
Esse texto é uma ficção, baseada em fatos reais. Qualquer coincidência com fatos verdadeiros poderá não ser mera coincidência.
Thiago Ticchetti
Coeditor da Revista UFO, presidente da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), diretor nacional da MUFON no Brasil, MUFON Field Investigator, MUFON STAR Team e ICER Brasil.