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Essa controversa técnica envolve a hipnose de uma pessoa na tentativa de recordar detalhes de um suposto encontro com seres alienígenas

O fenômeno mais obscuro dentro da Ufologia moderna é a abdução por seres alienígenas. Os locais onde ocorrem tais sequestros são geralmente desertos e isolados, mas existem também muitos casos em que as vítimas são contatadas em suas próprias casas enquanto estão dormindo. As pessoas capturadas são retiradas dos lugares em que se encontram e levadas a bordo de naves extraterrestres. Depois de certo tempo, algumas são devolvidas exatamente no lugar onde foram capturadas, e outras podem ser encontradas a vários quilômetros de sua posição inicial. Após o sequestro, as vítimas quase nunca se lembram do que lhes ocorreu naquele período e, com o passar dos dias, bloqueadas por um trauma, têm vaga lembrança do rapto. Então, como desbloquear essa memória perdida?

Os primeiros indícios registrados de regressão hipnótica surgiram em antigas escritas de curandeiros egípcios do ano de 1550 a. C. O Papyrus Ebers designava a realização de cantos e encantamentos antes dos tratamentos médicos. E a hipnose era utilizada posteriormente para saber se o paciente tinha se recuperado. O primeiro brasileiro abduzido de que se tem notícia foi o mineiro Antônio Vilas-Boas, em 1958. Ele relatou ter sido capturado por quatro seres de macacões que o levaram para dentro do que classificou como “aparelho”. No interior da suposta nave, a vítima contou ter sido submetida a uma bateria de exames e a manter relações sexuais com uma extraterrena. Apesar de sua eficácia, a regressão hipnótica somente foi utilizada em estudos ufológicos a partir do caso de abdução do casal Barney e Betty Hill, em 1961, nos Estados Unidos.

Eles foram surpreendidos por um UFO que os seguiu por 45 km. Quando chegaram em casa notaram que já havia se passado mais de seis horas. Dias depois, submetendo-se a um tratamento hipnótico, revelaram ter sido examinados a bordo de uma nave. Betty contou que havia 14 criaturas dentro do disco voador e as descreveu com uma riqueza de detalhes impressionante.

Hoje, a regressão hipnótica é frequentemente utilizada por ufólogos no trato de pessoas que afirmam ter tido contatos com seres alienígenas, pois permite que a vítima recupere a parte de sua memória que ficou bloqueada por algum tipo de trauma causado pelo contato. Essa técnica, nesses casos, pode ser realizada por especialistas ou ufólogos. Há uma grande discussão sobre a efetividade da hipnose regressiva nos casos de abdução, assim como das informações reveladas através dela.

A técnica é muito utilizada por psicólogos para aliviar tensões de várias origens e possibilitar ao paciente que se lembre da proveniência de seu medo, podendo assim encará-lo. Entretanto, os médicos são unânimes em afirmar que as memórias reveladas são altamente duvidosas, pois o que vem à mente dos pacientes pode não ser o que realmente aconteceu. Um exemplo simples disso seria o de uma pessoa que testemunhou um disco voador e por isso tem muito medo que os extraterrestres venham abduzi-la.

Quando o caso é analisado por meio da regressão hipnótica dois ou três anos mais tarde – como ocorre na maioria das vezes –, esses medos e fantasias podem vir à tona com a mesma intensidade e emoção do dia em que ocorreram. Contudo, há uma significativa chance do hipnólogo distinguir o que é real do que seria pura imaginação. “A hipnose é um atalho para a verdade do modo como ela é sentida e entendida pelo observador, podendo estar ou não de acordo com a verdade final”, declarou o doutor Benjamim Simon, que hipnotizou o casal Hill.

Devido à exótica natureza do Fenômeno UFO e a nossa incapacidade de estudar muitas das informações reveladas pela regressão hipnótica, ela é considerada uma alternativa pouco confiável por alguns ufólogos. Em muitos casos, essa prática é realizada anos após o incidente, e o abduzido pode ter tido muito tempo para se informar sobre o assunto, influenciando e distorcendo os fatos vividos, comprometendo assim futuras investigações.

Além disso, existem alguns outros problemas associados a essa técnica, que devem ser evitados por pesquisadores experientes. Uma pessoa em estado hipnótico, por exemplo, está ligeiramente suscetível à influência por parte do hipnotizador ou pesquisador, pois há certa dificuldade em colocar perguntas direcionadas a cada caso em específico sem que haja uma busca por semelhanças com algum outro já estudado. Um fator negativo na hipnose é o fato de muitos psiquiatras afirmarem que o hipnotizado pode responder às perguntas feitas pelo investigador de modo induzido, com o objetivo de satisfazer suas aspirações.

A possibilidade de inexatidão nas lembranças recuperadas sob hipnose deve ser considerada na avaliação final dos relatos de abdução, pois estudos comprovam que informações inexatas podem ser recuperadas sob hipnose de forma correta. Por isso, as narrativas obtidas hipnoticamente devem ser comparadas com as informações lembradas pelo paciente antes da hipnose.

O pesquisador John E. Mack, ganhador do prêmio Pulitzer de literatura em 1977 e professor da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, afirma que, de acordo com suas pesquisas, o material sobre abdução recuperado em procedimentos de hipnose assemelha-se ao obtido por intermédio da narrativa consciente. E embora pesquisas comprovem que alguns pacientes confiam igualmente em ambos, os pesquisados com quem tem trabalhado, em sua maioria, mantêm uma postura cética e inquiridora com relação à exatidão factual de seus contatos – isso apesar da força emocional de lembranças aparentemente recuperadas.

Em alguns dos casos pesquisados, Mack pôde constatar que os dados obtidos durante a regressão pareceram mais prováveis do que o relato consciente. A informação conseguida durante a hipnose foi prestada pelo paciente sem que ele se preocupasse com a autoestima. O material colhido era muito mais confiável, pois condizia com relatos fornecidos por outros abduzidos. Outro ponto a favor da regressão é que – apesar do envolvimento emocional não ser uma garantia de exatidão da memória, com ou sem hipnose – a intensidade do sentimento e das sensações corporais dos abduzidos durante as sessões era muito forte. Até mesmo os céticos mais ortodoxos chegariam à conclusão que alguma coisa bastante extraordinária teria acontecido verdadeiramente aos pacientes desta técnica.

O psiquiatra de uma das pacientes de Mack, por exemplo, vem trabalhando com ela há sete anos e, após assistir a algumas regressões, ficou convencido de que se ela não foi abduzida por seres alienígenas, provavelmente sofreu algo muito semelhante. Esse engajamento é visto na Ufologia com muitos bons olhos: médicos e profissionais de saúde mental tem oportunidade de examinar experimentos legítimos feitos em pacientes e observar sua validade, que por tabela confere ao Fenômeno UFO dimensão mais confiável.

É difícil imaginar de que modo a psiquê conseguiria gerar um grau tão intenso de emoção sem que houvesse, na realidade, uma experiência extraordinária para moldá-la, com no caso das abduções. Por isso, talvez seja certo afirmar que a maior parte das informações associadas às abduções é recordada sem o uso de um estado alterado de consciência. E, sendo assim, muitas vítimas pensam reviver fortes experiências após um mínimo exercício de relaxamento, os quais julgam erroneamente como hipnose.

Em uma rápida entrevista, o doutor David Jacobs, um dos maiores especialistas no fenômeno da abdução e autor do livro “A Vida Secreta”, afirmou: “Nós temos que ter muito cuidado com a hipnose. As pessoas dizem coisas que não são verdadeiras. Nesses casos, elas não estão mentindo, somente interpretam mal as recordações que vêm à mente”. Nada poderia estar mais correto. Jacobs sabe o que fala, graças à sua inigualável experiência na área.

Infelizmente, existem poucos especialistas em hipnose que também tenham conhecimento do fenômeno da abdução. Eles não distinguem quando o hipnotizado está falando a verdade, mentindo ou se enganando”, finaliza. Para o autor, muitos ufólogos tendem a acreditar em tudo o que ouvem, quando na verdade o hipnólogo precisa saber o tipo de perguntas que irá fazer e quando deverão ser feitas ao abduzido sob hipnose. Isso é difícil de aprender, ele admite. Já para o ufólogo Budd Hopkins, a hipnose é a única técnica que realmente obtém algum resultado, sendo recomendada, inclusive, pela Associação Médica Americana (AMA) em casos de missing time – aquela estranha sensação de tempo perdido ou faltante na vida das pessoas.

Alguns hipnólogos conduzem as sessões para áreas mais voltadas à hipnose clínica em si do que para a de uma pesquisa de abdução. Isso acontece frequentemente com os pesquisadores espiritualistas e é uma injustiça para com o abduzido, que procura descobrir o que realmente lhe aconteceu e acaba recebendo uma informação incorreta. Já com profissionais competentes e sérios, a regressão hipnótica pode ser bem efetiva e uma ferramenta crucial na descoberta dos segredos da abdução por alienígenas.

Como tudo que gera opiniões e crenças, no entanto, essa prática aplicada à Ufologia tem seus prós e contras. Quando se decide investigar a origem de sonhos estranhos e lembranças incômodas, geralmente relacionados a sequestros, é preciso estar preparado para uma possível mudança de vida. Ao descobrir uma experiência de abdução por alienígenas, não há mais volta para o paciente.

A relação do abduzido com amigos, parentes e o meio social será mudada. Por isso é preciso refletir muito antes de decidir pela regressão hipnótica, pois o momento das descobertas pode ser outro. Também é importante ressaltar que algumas memórias não são reflexos da realidade. As pessoas se lembram de coisas que não lhes aconteceram. Imaginam ocasiões e fatos, e isso se torna ainda mais perigoso quando o hipnotizador não tem experiência.

Ao lembrar-se de fatos traumatizantes, o abduzido pode ficar com medo de um novo sequestro por ETs, assim como a recordação da memória perdida pode ajudá-lo a ganhar confiança e superar seu medo. De qualquer forma, a concepção de realidade da vítima mudará consideravelmente, para melhor ou pior. Um dos eventos mais conhecidos com a utilização de hipnose regressiva foi acontecido a Betty Andreasson, sequestrada por alienígenas na Nova Inglaterra, EUA. Reprimida por anos em sua sociedade, no que diz respeito a suas supostas e repetitivas lembranças do rapto, Betty descobriu que realizara viagens cósmicas em sessões de hipnose realizadas entre 1977 e 1980.

Segundo recorda, foi contatada pela primeira vez aos sete anos e novamente aos 12. Nas duas vezes desmaiou e, ao acordar, ouviu vozes que lhe diziam estar progredindo, sem especificar em que sentido. Em 1950, quando tinha 13 anos, passou por uma experiência perturbadora, somente revelada com a hipnose, muitos anos depois. Após ver no céu um objeto parecido com a Lua, que ia ficando cada vez maior, Betty encontrou-se inexplicavelmente em uma estranha sala branca, sendo examinada por três pequenos humanoides de cabeça grande. Segundo suas lembranças, depois disso os seres a puseram numa poltrona dentro de uma nave esférica de vidro, que imediatamente mergulhou num ambiente aquático.

O veículo veio à tona dentro de um túnel gélido, em parte recoberto por incontáveis blocos cristalinos. Dentro destes havia figuras humanas imóveis incrustadas como insetos em âmbar e vestidas com roupas de séculos passados. Betty lembrou-se de ter sido então transportada para longe dessa exposição, até uma área escura que continha naves metálicas. De lá foi para um lugar que descreveu como “uma floresta de vidro claro”, que lhe transmitiu uma sensação de revelação espiritual. Após retornar a Terra, os alienígenas a fizeram esquecer-se da viagem cósmica. Contudo, outro passeio rumo ao desconhecido estava à sua espera e, depois dele, muitos outros iriam acontecer – como que seguindo um padrão dentro do fenômeno das abduções.

De acordo com as lembranças reveladas sob hipnose, a segunda viagem de Betty Andreasson para outro mundo ocorreu aos 30 anos de idade. Ela estava em South Ashburnham, em Massachussets, com seus pais e sete filhos, enquanto o marido se recuperava de um acidente de automóvel num hospital da cidade. Numa noite de inverno, quando as luzes de sua casa oscilavam, toda sua família entrou em transe e ela assistiu à entrada de cinco extraterrestres em sua propriedade, que passaram através da porta fechada como se não fosse feita de material sólido.

Os estranhos visitantes convenceram-na a entrar na nave, e lá foi novamente examinada e levada para outro mundo. Chegando ao local, ela foi transportada por trilhos móveis através um longo corredor de pedra, ladeada por dois ETs encapuzados. No fim da passagem, atravessaram um espelho prateado e chegaram a uma região de atmosfera vermelha. Nela, criaturas parecidas com lêmures (fantasmas) arrastavam-se entre os edifícios quadrados, dos dois lados dos trilhos. Betty apavorou-se diante de criaturas com grandes olhos presos a hastes que se estendiam aos pescoços sem cabeça, mas eles deixaram-na passar sem molestá-la.

A abduzida, então, foi conduzida por meio de uma barreira circular para um vasto território subterrâneo banhado por uma luz esverdeada, que revelava mares brumosos, vegetação luxuriante e uma cidade longínqua. Cerca de quatro horas depois de partir, Betty retornou à sua casa, onde, ainda estonteada, e juntamente com sua família, foi dormir como se nada tivesse acontecido. Ela guardou apenas uma vaga lembrança do episódio, até consultar um hipnotizador, dez anos depois.

Para alguns ufólogos mais céticos, a abdução poderia ser explicada como um distúrbio muito comum no mundo todo, a paralisia do sono, que afeta uma em cada cinco pessoas. De acordo com o doutor David Hufford em seu memorável livro The Terror That Comes in the Night (o Terror que Vem à Noite), a paralisia do sono é um período no qual o indivíduo não consegue fazer movimentos voluntários – tanto adormecido quanto acordado, mesmo em estado consciente. Um sequestro alienígena poderia então ser confundido com a paralisia? Segundo David, não, pois neste caso a pessoa não consegue se mover nem mesmo com os olhos abertos.

Alguns abduzidos já tiveram paralisia do sono e dizem que as sensações são muito diferentes, que não têm nada relacionado à abdução. É importante lembrar que embora muitas abduções aconteçam quando a pessoa está dormindo, muitas delas ocorrem quando o indivíduo está acordado. Foi o caso de Vilas-Boas, do casal Hill e de centenas de outros abduzidos. Já a paralisia do sono, segundo o doutor Hufford, é mais comum quando a pessoa está adormecida. Apesar das possíveis controvérsias, seria muita ignorância dos ufólogos rejeitar a hipnose regressiva, pois bons pesquisadores estão atentos aos problemas e falhas da técnica, assim como aos detalhes nos testemunhos de vários abduzidos.

Mesmo que não seja totalmente eficiente, a hipnose é capaz de revelar as ansiedades e medos mais ocultos dos pacientes, e isso é de grande importância para o pesquisador. Portanto, o indivíduo que pretende ser submetido à regressão hipnótica deve escolher seu hipnólogo de acordo com alguns princípios básicos. O médico ou ufólogo deve ter conhecimento das características do fenômeno da abdução para conduzir a investigação corretamente, auxiliando, assim, para que suas memórias sejam exploradas de maneira sutil e sistemática.

Os pesquisadores espiritualistas devem ser evitados neste caso específico, a não ser que seja a vontade da vítima. O ideal é que o hipnólogo seja também terapeuta ou trabalhe conjuntamente com alguém da área, para que o abduzido possa ser ajudado na recuperação de suas lembranças de forma médica e psicologicamente aceitável. Por último, o hipnotizador deve ser sensível e perceptivo, pois no início da exploração da memória não surgirão revelações imediatas. As recordações podem ser enganadas mesmo com a utilização da técnica e, no começo, o hipnotizado pode não ser capaz de distinguir o que é real do imaginário.

É preciso estar ciente de que suas lembranças poderão ser apenas sonhos. Atualmente, um número crescente de autoridades legais utiliza a hipnose como uma das ferramentas disponíveis na resolução de crimes, em geral quando as testemunhas têm dificuldade em lembrar com exatidão o que aconteceu. A polícia israelense, por exemplo, tem utilizado a técnica da hipnose desde 1973, e em 70% dos casos ela é bem-sucedida.